Dinamarca e Finlândia costumam aparecer nas primeiras posições nos diferentes comparativos internacionais sobre economias verdes e digitais. O protagonismo dos países nórdicos – e de dinamarqueses e finlandeses em particular – fica evidente, por exemplo, em rankings como o de políticas ambientais e o de competitividade digital.
O Brasil é muito diferente de ambos, e não apenas por ter uma população quase 40 vezes maior que cada um deles. Isso não quer dizer que as iniciativas dos dois países não possam inspirar os esforços brasileiros em áreas como governo digital e combate às mudanças climáticas. “Na União Europeia, Finlândia e Dinamarca são pioneiros em iniciativas que hoje estamos fazendo coletivamente. E nós queremos compartilhar isso com o Brasil”, diz Ignacio Ybáñez, embaixador da UE no país.
Ybáñez e os embaixadores Jouko Leinonen (Finlândia) e Nicolai Prytz (Dinamarca) falaram sobre as transições ambiental e digital nesta quarta-feira (15/7), em seminário online organizado pela empresa de informações e análises políticas Dharma. O Scandinavian Way reuniu alguns dos pontos abordados pelos embaixadores. Eles ajudam a explicar o pioneirismo desses dois países em meio ambiente e digitalização – e podem servir de inspiração a tomadores de decisão brasileiros.
Agenda ambiental sem “dono”
A manutenção da agenda de sustentabilidade independentemente do partido que governa o país é um dos pontos centrais para os avanços da Dinamarca na frente ambiental, afirma Prytz. “Meio ambiente e clima deixaram de ser temas exclusivos dos partidos verdes idealistas e viraram uma causa de todos”, afirma. “Esquerda, centro ou direita.”
O embaixador dinamarquês lembrou que meio ambiente foi o principal tema de debate das eleições parlamentares de seu país em 2019. Ele citou ainda o fato de o plano de ação ambiental aprovado pelo Parlamento no fim do mês passado (relembre aqui) ter contado com o aval de oito dos dez partidos políticos da Dinamarca.
Um passo de cada vez
Se Finlândia e Dinamarca estão entre os líderes globais nas transições ambiental e digital isso ocorre, em parte, porque ambos deram o primeiro passo há muito tempo. Em resumo, é preciso começar; a evolução só vem com o passar do tempo. “Nossa primeira lei de proteção ambiental é de 1886”, conta o embaixador finlandês Jouko Leinonen.
O raciocínio vale também para a transição digital. “Sim, nós fomos um pioneiro em governo digital”, diz o dinamarquês. “Mas levamos 20 anos para chegar ao ponto em que estamos hoje.” Prytz reitera que não é possível simplesmente reproduzir as iniciativas da Dinamarca no Brasil, mas que a troca de experiências pode ajudar a adaptar alguns desses esforços para a realidade local.
Metas ousadas
Com uma das metas ambientais mais ambiciosas do mundo, a Dinamarca prevê neutralizar 100% de suas emissões de carbono até 2030. Igualmente ousado, o alvo da Finlândia, anunciado em meados do ano passado, é de neutralização até 2035. “Nós acreditamos que ter metas ousadas nos ajuda”, diz o embaixador finlandês.
Agendas ambiental e de inovação interligadas
Substituir as matérias-primas de origem fóssil passa necessariamente por grandes esforços em inovação. A Finlândia não é rica em petróleo, por exemplo, mas tem uma das indústrias de base florestal mais avançadas do mundo. Com isso, no país, inovações no aproveitamento da madeira têm apontado caminhos para áreas que vão da geração de energia à indústria de confecções. “Tudo o que pode ser feito de petróleo hoje poderá ser feito de madeira amanhã”, afirma Leinonen.
Educação como prioridade
O modelo educacional finlandês é reconhecido há muitos anos como um dos mais avançados do mundo. No caso dos dinamarqueses, é graças – também – à força de seu sistema de educação que o país tem uma das economias mais competitivas do planeta, de acordo com a pesquisa da escola de negócios suíça IMD publicada no último mês de junho. “Muitos dos avanços da Dinamarca só ocorreram por causa dos investimentos em educação”, diz Nicolai Prytz.
Setor privado no centro das decisões (e das ações)
O embaixador dinamarquês afirma que, ao participarem diretamente dos debates e decisões, as empresas sentem-se mais responsáveis pelos destinos tomados pelo país. Mas, além de dar opiniões, o setor privado tem consciência sobre seu papel, por exemplo, de investir em áreas como as de energia e transporte sustentáveis. “Muitos dos investimentos não são só do setor público”, afirma.